- Navios
Ontem eu estava lendo uma história de Drácula produzida pela equipe ‘Sol de Ouro’ (qualquer semelhança com ‘Aurora Dourada’ é mera coincidência?) onde Drácula toma um navio. A história, baseada no clássico de Bram Stoker é mais do que previsível... «Algum tempo depois, numa noite gélida, o conde Drácula está a bordo de um navio que viajará durante semanas». O vampiro dorme de dia numa cama em seu camarote – e não num caixão junto com a carga... – e ataca a noite, jogando no mar o corpo de suas vítimas: «Aqui poderei fartar-me de sangue todas as noites, e ninguém saberá o que aconteceu as vítimas»; «Os policiais nunca encontrarão o culpado. Eles se defrontarão com um mistério insolúvel.»[1]
Diferente do livro, nesse quadrinho desenhado a nanquim Drácula se mistura e conversa com os passageiros apresentando-se como psicólogo, Dr Drake, e até oferece ajuda a esposa de sua vítima da noite anterior, evidentemente com a intenção de suga-la também, mais tarde... Por fim, o navio aportou em Bolougne e Drácula saiu voando pela escotilha em forma de morcego.
Todo mundo que já leu Drácula ou viu filmes antigos de vampiros conhece a história do navio Demeter, encontrado sem tripulantes (que, na ficção, foram mortos por Drácula). Para a criação deste episódio Bram Stoker baseou-se numa história real.
Stoker passava a maior parte do tempo viajando sozinho. Ele conversava com marinheiros e oficiais da guarda costeira sobre o mar e descobriu uma estranha história sobre uma escuna russa chamada Dimitri que cinco anos antes havia chegado ao porto, sob a ameaça de uma tempestade, com todas as velas içadas, tendo desviado das pedras por mera sorte, e anotou a história para usar como uma futura referência.
Mas o Dimitri não foi a única embarcação encontrada neste estado. Muitas vezes navios grandes simplesmente sumiram enquanto outros navios e barcos menores foram encontrados à deriva. – Embora o mais comum seja o desaparecimento de todo a embarcação, casos mais raros ocorridos dentro ou próximo do chamado ‘Triângulo das Bermudas’ constatam o desaparecimento de tripulações inteiras. Com uma única exceção (quando um papagaio falador ‘sumiu’ junto com a tripulação), os desaparecidos são todos seres humanos. Nos raros navios que foram encontrados não havia nem um tripulante, nem um passageiro. Em contrapartida, no Rosalie, em 1840, ficou um canário; na Carroll A. Deering, escuna de cinco mastros encontrada, em Janeiro de 1921, encalhada nos recifes do cabo Hatteras, estavam dois gatos; cerca de 20 anos mais tarde, foi encontrado um cão no Rubicon, cargueiro cubano salvo pelos guardas-costeiros americanos quando navegava à deriva, sem um único homem a bordo, ao largo da Florida.
Selecionei alguns casos dentre os desaparecimentos mais importantes:
1 — 1840: Foi encontrado o ‘Rosalie’, um navio com bandeira francesa que zarpara de Hamburgo com destino a Havana, navegava velozmente, as velas enfunadas pelo vento. Não havia vestígios de água no seu interior, o carregamento estava intacto, mas a tripulação desaparecera, subsistindo apenas um desafortunado canário semimorto de fome na sua gaiola.
2 — Outubro de 1902: uma barca alemã. Freya; encontrada logo após sua partida do porto de Manzanillo, em Cuba, muito adernada, mastros quebrados, a âncora pendurada na proa; um calendário na cabina do comandante marcava o dia 4, dia seguinte ao embarque.
3 — 1921: O “Raïfuku Maru”. A história da Marinha Japonesa é rica em lendas: monstros marinhos, demôios, navios fantasmas... No entanto, era muito longe do seu porto de abrigo que navegavam em Janeiro de 1921 os marinheiros do cargueiro nipónico Raïfuku Maru: após terem atravessado o Pacífico e transposto o canal do Panamá, dirigiam-se para Nova Iorque através das águas tépidas do mar das Caraíbas. A última mensagem do navio foi emitida em código: “Perigo como punhal. Venham depressa!” Em seguida, o silêncio; o navio e a sua tripulação nunca mais foram vistos.
4 — Abril de 1932: uma escuna (dois mastros), John and Mary; registrada no porto de Nova Iorque; encontrada à deriva e abandonada a 50 milhas ao sul das ilhas Bermudas; velas ferradas. Casco recém-pintado.
5 — Fevereiro de 1940: iate Gloria Colite, de St. Vincent, Índias Ocidentais inglesas; achado abandonado; tudo em ordem a bordo; 200 milhas ao sul de Mobile, Alabama.
6 — 22 de outubro de 1944: um cargueiro cubano, Rubicon; encontrado pela Guarda Costeira no Gulf Stream, ao largo das costas da Flórida; sem ninguém a bordo, a não ser um cachorro.
Alguns dos mais famosos casos relatados parecem bem fantasiosos, como o da escuna ‘Ellen Austin’:
«Mais extraordinária ainda é a aventura que sucedeu em 1881 à escuna americana Ellen Austin. A meio caminho entre as Baamas e as Bermudas, encontrou um grande veleiro abandonado. A bordo não se notava o menor vestígio de violência, reinava uma ordem perfeita: convés de teca recentemente esfregado, bujarrona e traquete cuidadosamente enrolados. A vela grande ondeava à mercê dos ventos e a retranca chocava com os brandais, a bombordo e a estibordo, a cada balanço do navio. A embarcação, carregada de madeira de acaju, vinha aparentemente das Honduras. Uma pechincha para o comandante Baker do Ellen Austin, que imediatamente colocou a bordo um destacamento encarregado de tomar posse do navio.
Os dois navios preparavam-se para seguir juntos para Boston quando se desencadeou uma violenta tempestade. Decorreram dois dias antes que o Ellen Austin tornasse a avistar o veleiro capturado. Navegava tão caprichosamente que foi necessário persegui-lo durante cerca de uma hora antes que fosse possível abordá-lo. Quando o conseguiram os tripulantes do Ellen Austin surpreenderam-se por não ver ninguém. Chamaram os membros do destacamento que fora enviado para bordo, procuraram-nos nos camarotes, nos porões: por sua vez, eles haviam desaparecido...
Baker era um céptico e um obstinado. Mandou embarcar um segundo destacamento, desta vez armado até aos dentes e com ordem de abandonar o navio ao menor sinal insólito. Apenas uma distância de cerca de 20 m separava ambas as embarcações. Não tardou, no entanto, a desencadear-se uma tempestade ainda mais violenta, e o contacto foi novamente perdido. Nunca mais se viu o “navio fantasma”, e com ele um terço dos homens do Ellen Austin.»[2]
Em 1975, um bibliotecário da Universidade do Arizona, Lawrence David Kusche, publicou o livro ‘Solução do Mistério’. Ele confessa abertamente que nunca procurou in loco a chave do enigma, porém reuniu um grande número de documentos, verificou testemunhos, analisou as comunicações por rádio, consultou os registros da companhia de seguros Lloyds, os dossiers da Guarda Costeira e da Aviação Americanas e os jornais da época. Com isso chegou a conclusão de que o caso Ellen Austin não é susceptível de ser comprovado, pois não encontrou qualquer fonte escrita sobre tal ocorrência. Também, segundo Kusche, o Rosalie seria desconhecido entre o grande número de navios da época.
Outros casos de desaparecimentos reais não são tão difíceis de explicar... Em 1974, após o desaparecimento de um iate totalmente novo, chamado ‘Saba Bank’, foi dirigido um aviso especial aos barcos de recreio recomendando-lhes que nunca saíssem para o mar com passageiros cuja identidade desconhecessem e que deixassem sempre a lista da tripulação a um amigo ou vizinho. Estas precauções não eram supérfluas. Um dos deputados de Nova Iorque, John M. Murphy, publicou na época os seguintes números: entre 1971 e 1974 mais de 600 iates tinham desaparecido misteriosamente. Pelo menos 50 destes barcos haviam sido vitimas de atos de pirataria, na maioria dos casos perpetrados por traficantes de droga. O Saba Bank poderia bem ter sido o último da lista...
Uma obra do Readr’s Digest, visando desmistificar o fenômeno, cita: «“A vigilância costeira não admite explicações sobrenaturais, para os desastres no mar”, concluiu o relatório do 7.º Distrito. “Segundo a nossa experiência, várias vezes por ano as forças combinadas da Natureza e do comportamento imprevisível do homem ultrapassam com vantagem a mais audaciosa ficção científica”... Subsistem, no entanto, fatos que escapam à compreensão humana, desaparecimentos que, decorridos mais de 20 anos, permanecem inexplicáveis – o da tripulação da escuna Caroll A. Deering e o do Star Tiger».
- Aviões
Um outro caso autêntico, bem documentado, e ainda inexplicável foi o desaparecimento de seis aviões da Marinha dos Estados Unidos e suas tripulações em 5 de dezembro de 1945:
«Os cinco primeiros aviões que sumiram, aparentemente ao mesmo tempo, encontravam-se em missão rotineira de treinamento com plano de vôo determinado: seguir uma linha triangular que se iniciara na Base Aeronaval de Forte Lauderdale, na Flórida, avançando 250 quilômetros para leste, 65 quilômetros para o norte, e depois de volta às suas bases, pelo rumo sudoeste. [...] Vôo 19 era a designação do grupo de aviões que se perdera e que decolara de sua base no Forte Lauderdale, na tarde de 5 de dezembro de 1945. As aeronaves eram pilotadas por cinco comandantes e contavam com nove membros na tripulação, distribuídos dois a dois em cada avião, menos um deles, que pedira a sua retirada das turmas de vôo devido a um “pressentimento” e não fora ainda substituído. Os aviões eram aparelhos Grummans Navais TBM-3 Avenger, bombardeiros com torpedos, e cada um deles levava bastante combustível para um vôo de mais de mil e seiscentos quilômetros. A temperatura era 18,3°C, o sol brilhava e havia pequenas nuvens esparsas e ventos moderados de nordeste. Pilotos que tinham voado antes naquele mesmo dia haviam constatado as condições ideais de vôo. O tempo previsto para o vôo era de duas horas. Os aviões começaram a decolar às duas horas da tarde e às 2h10m estavam todos no ar. O Tenente Charles Taylor, com mais de 2.500 horas de vôo, e que estava no comando da esquadrilha, guiou o grupo em direção aos baixios Chicken, ao norte de Bimini, onde eles deveriam fazer ataques de treinamento sobre um casco desmantelado que servia de alvo. Tanto os pilotos como os tripulantes eram experientes e não havia nenhuma razão para esperar algo de natureza excepcional naquela missão rotineira do Vôo 19.
Mas algo aconteceu, como se fosse uma vingança. Por volta das 3h15m, quando o bombardeio terminou e os aviões deveriam continuar no rumo leste, o radioperador da torre da Base Aeronaval de Forte Lauderdale, que estava à espera do contato com os aviões para saber a provável hora do retomo e transmitir-lhes as instruções de pouso, recebeu uma mensagem extraordinária do líder da esquadrilha. As gravações mostram o seguinte:
Líder da Esquadrilha (Tenente Charles Taylor): — Chamando a torre. Isto é uma emergência. Parece que estamos fora do rumo. Não consigo ver a terra... Repito... Não consigo ver a terra.
Torre: — Qual é a sua posição?
Líder da Esquadrilha: — Não estamos certos de nossa posição. Não tenho a certeza de onde estamos... Parece que estamos perdidos.
Torre: — Mude o rumo para oeste.
Líder da Esquadrilha: — Não sabemos para que lado fica o oeste. Tudo está errado... Estranho... Não temos certeza de nenhuma direção — até mesmo o oceano parece diferente, esquisito...
Cerca de 3h30m da tarde, o instrutor-chefe dos vôos em Forte Lauderdale captou em seu rádio uma mensagem de alguém chamando Powers, um dos alunos-pilotos, pedindo informações a respeito da leitura de sua bússola, e ouviu Powers responder:
— Eu não sei aonde estamos. Devemos ter-nos perdido após a última virada.
O instrutor-chefe conseguiu contato com o Vôo 19, e chamou o instrutor do vôo, que lhe disse:
— Ambas as minhas bússolas estão fora de ação. Estou tentando encontrar Forte Lauderdale... Tenho certeza que estamos sobre as ilhas do litoral, mas não sei a que distância...
O instrutor-chefe depois disto aconselhou-o a voar rumo norte — com o sol por bombordo — até que ele alcançasse a Base Aeronaval de Forte Lauderdale. Mas logo em seguida ouviu:
— Acabamos de passar sobre uma ilhota... Não há mais nenhuma terra à vista...
Isso indicava que o avião do instrutor do Vôo 19 não estava sobre a costa e que toda a esquadrilha, já que nenhum deles conseguia ver terra, que normalmente seguiria em continuação às ilhas baixas da costa da Flórida, havia perdido a direção.
Foi ficando cada vez mais difícil captar as mensagens do Vôo 19 devido à estática. Aparentemente o Vôo 19 já não podia ouvir as mensagens enviadas pela torre de controle, mas a torre conseguia ouvir a conversa trocada entre os aviões. Algumas se referiam a uma possível falta de combustível — gasolina para apenas mais cem quilômetros de vôo, referências a ventos de 120 quilômetros por hora, e a desalentada observação de que todas as bússolas, magnéticas ou giroscópicas, de todos os aviões, “tinham ficado malucas” — como haviam dito antes — cada qual dando uma leitura diferente. Durante todo este tempo, o poderoso transmissor de Forte Lauderdale foi incapaz de estabelecer qualquer contato com os cinco aviões, apesar das comunicações entre os componentes da esquadrilha serem perfeitamente audíveis.
A esta altura, o pessoal da base estava num compreensível alvoroço quando se espalhou a notícia que o Vôo 19 havia-se deparado com uma emergência de origem ignorada. Todos os tipos de suposições a respeito de ataques inimigos (apesar da Segunda Guerra l Mundial já haver terminado fazia vários meses) ou até mesmo de ataques por novos inimigos, como eles próprios sugeriram, determinaram o envio de um aparelho de resgate, um bimotor Martin Mariner, hidroavião de patrulha com uma tripulação de 13 pessoas, que decolou da Base Aeronaval do Rio Banana.
As 4 horas da tarde, a torre conseguiu ouvir de relance que o Tenente Taylor inesperadamente passara o comando da esquadrilha para um antigo piloto da Marinha, o Capitão Stiver. Apesar de confusa devido à estática e deformada pela excessiva tensão, uma mensagem compreensível foi enviada por ele:
— Não temos certeza de onde estamos... Penso que devemos estar a 360 quilômetros a nordeste da base... Devemos ter passado por cima da Flórida e estar sobre o Golfo do México...
O líder da esquadrilha aparentemente resolveu dar uma volta de 1800 na esperança de voltar para a Flórida, mas ao fazer a curva a transmissão começou a ficar cada vez mais fraca, indicando que deviam ter feito a curva na direção errada e que estavam se afastando no rumo leste, cada vez mais longe da Flórida e na direção do mar aberto. Alguns relatórios afirmam que as últimas palavras ouvidas do Vôo 19 foram:
— parece que... nós estamos... Enquanto outros radioperadores parecem lembrar-se de mais alguma coisa, tais como:
— Estamos em águas brancas... Estamos completamente perdidos...
Nesse meio tempo a torre de controle recebeu uma mensagem enviada poucos minutos após a decolagem do Tenente Come, um dos oficiais do Martin Mariner, despachada da área geral de onde se presumia estivesse o Vôo 19, afirmando que havia fortes ventos acima de dois mil metros. Esta foi, no entanto, a última mensagem recebida do avião de resgate. Logo depois todas as unidades de busca receberam uma mensagem urgente dizendo que eram seis e não mais cinco aviões que haviam sumido. O avião de resgate, com seus 13 tripulantes, também desaparecera.
Nenhuma mensagem posterior foi recebida do Vôo 19 em sua missão de treinamento ou do Martin Mariner enviado para procurá-los. Um pouco depois das 7h da noite, no entanto, a Base Aeronaval de Opa-Locka em Miami captou uma mensagem muito fraca que consistia de: — FT... FT... — que era o prefixo dos aviões do Vôo 19. O avião do instrutor do vôo era o FT-28. Mas se esta chamada fosse mesmo da “patrulha perdida”, a hora em que ela foi captada indicava uma transmissão duas horas depois de os aviões presumivelmente já estarem sem gasolina.
As buscas aéreas imediatas, iniciadas no dia do desaparecimento, foram suspensas quando escureceu, mas barcos do Serviço da Guarda Costeira continuaram a procurar sobreviventes a noite inteira. No dia seguinte, quinta-feira, um imenso esforço de buscas começou às “primeiras horas”, isto é, ao romper da aurora, embora tenha-se desencadeado uma das mais intensas operações de resgate de toda a História -que envolveu 240 aviões, além de 67 suplementares do porta-aviões Solomons, quatro destróieres, vários submarinos, 18 barcos da Guarda Costeira, centenas de aviões particulares, iates e barcos menores, e os restantes PBM da Base Aeronaval do Rio Banana — e apesar da ajuda da RAF e das unidades da Marinha Real Britânica sediadas nas Bahamas, nada foi encontrado.
Uma média diária de 167 vôos, a cem metros acima do nível do mar, da madrugada até o anoitecer, procedendo a uma inspeção minuciosa sobre 380.000 milhas quadradas de terra e de mar, inclusive no oceano Atlântico, mar das Caraibas, parte do Golfo do México e a zona territorial da Flórida e ilhas vizinhas, com um tempo de vôo que totalizou 4.100 horas, não revelou nenhuma balsa salva-vidas, nenhum destroço, qualquer mancha de óleo. As praias da Flórida e das Bahamas foram vasculhadas diariamente várias semanas na esperança de nelas se encontrar algum destroço dos aviões perdidos trazido pelas mares. Tais buscas não tiveram nenhum sucesso.
Todos os indícios possíveis foram investigados. Um relatório dizendo que um clarão avermelhado fora visto em terra por um avião comercial, no dia dos desaparecimentos, foi tido como sendo a possível explosão do Martin Mariner. Mas logo essa versão era posta de lado. Mais tarde um navio mercante anunciou ter visto uma explosão no céu às sete e meia da noite. Mas se tal explosão tivesse algo a ver com os cinco Avengers, isto significaria forçosamente que eles estavam ainda voando horas depois de seu combustível ter-se esgotado. Além do mais, explicar desta maneira a perda de todos os aviões sem deixar nenhum traço implicaria a hipótese de que eles todos se tivessem chocado ao mesmo tempo e explodido após silenciarem o rádio totalmente, igualmente notável o fato de que nenhum SOS foi enviado, seja pelo Vôo 19, seja pela missão de resgate. Quanto à possibilidade de uma amerrissagem forçada no oceano, observa-se que os Avengers eram capazes de descer suavemente, podendo-se manter à tona por noventa segundos em qualquer eventualidade. E suas tripulações estavam treinadas para abandonar as aeronaves em sessenta segundos. Balsas salva-vidas estavam disponíveis e eram facilmente alcança das pelo lado de fora dos aviões. Assim, em praticamente quase todos os tipos de amerrissagem as balsas salva-vidas boiariam e eventualmente seriam encontradas. Durante a primeira parte da operação de resgate, alguns observadores notaram grandes ondas, mas as vagas eram tão separadas umas das outras que os aviões poderiam ter descido, se necessário, nos intervalos. A curiosa menção às “águas brancas” na última mensagem recebida do Vôo 19 pode talvez ter alguma conexão com a estranha neblina branca e espessa que é um fato ocasional naquela região. Isto talvez possa explicar a falta de visibilidade e o comentário de que o sol “estava diferente”, mas é certo que não teria afetado as bússola e os giroscópios. Por outro lado, existe um local entre a Flórida e as Bahamas em que as comunicações pelo rádio emudecem, mas os problemas dos aviões começaram antes que o contato pelo rádio fosse perdido.
Uma Comissão Naval de Inquérito, depois de examinar todas as evidências disponíveis e chegando incidentalmente a debater o problema durante a corte marcial a que foi submetido o oficial encarregado dos instrumentos de bordo (que mais tarde foi absolvido quando ficou estabelecido que todos os instrumentos tinham sido verificados por ele antes da decolagem), terminou também às escuras quanto ao que realmente acontecera.
[...] Um pressentimento do desastre pareceu afetar pelo menos dois membros do Vôo 19. Um deles foi o próprio instrutor de vôos. À 1h15m da tarde ele chegou atrasado para a reunião de instruções antes do vôo e pediu ao oficial de serviço para ser dispensado desta particular missão. Seu pedido não foi acompanhado de nenhuma explicação. Ele simplesmente declarou que não desejava tomar parte na missão. Como nenhum substituto estava disponível, o pedido não foi atendido.
Um segundo caso, que o Tenente Wirshing presenciou pessoalmente, foi muito comentado: programado para o Vôo 19, o cabo Allan Kosnar não se apresentou na hora da decolagem. Ele foi citado pela imprensa por ter dito:
— Não posso explicar porque, mas por alguma estranha razão, eu resolvi não voar naquele dia.
De acordo com o Tenente Wirshing, o cabo, um veterano de Guadalcanal, só tinha mais quatro meses para servir antes de ser desmobilizado e havia pedido há vários meses para ser desligado das forças de vôo. No dia do vôo o problema tomara a surgir e o Tenente Wirshing dissera a ele para se apresentar ao médico da esquadrinha para pedir a sua retirada do vôo naquele dia. Ele fez isto e a esquadrilha decolou com um tripulante a menos. Quando as primeiras indicações de problemas com o Vôo 19 se tornaram evidentes, o Tenente Wirshing dirigiu-se ao alojamento à procura de voluntários. A primeira pessoa que ele encontrou ali foi o cabo recentemente licenciado, que disse:
— Lembra-se que o Senhor me mandou ver o médico da esquadrilha? Eu fui, e ele me desobrigou do vôo. Agora é a minha esquadrilha que se perdeu.
Um relatório do momento da decolagem, no entanto, indicava que os aviões haviam saído com as tripulações completas, como se alguém houvesse embarcado no último minuto no lugar do cabo. Isto causou uma chamada de mais de uma hora na base inteira, com vista a descobrir se alguém mais estava faltando. Quando ficou confirmado que não faltava mais ninguém, o mistério adicional das “tripulações completas” tornou-se apenas mais um elemento insolúvel no múltiplo desaparecimento.»[3]
No que se refere ao desaparecimento de aviões, o do vôo 19 mantém-se o episódio mais notável: seis aviões de uma só vez é de qualquer modo demasiado! No entanto, outros aviões haviam já desaparecido misteriosamente antes deste fatídico dia do ano de 1945: os de alguns contrabandistas da época da interdição, os quais, nos anos 30, cansados de ser perseguidos nos mares pelas vedetas dos representantes da ordem, se haviam refugiado nos céus, que supunham mais calmos; igualmente aviões militares, sobretudo durante a 11 Guerra Mundial, os quais nunca se soube realmente se haviam sido vítimas das fadas malignas da região ou, mais prosaicamente, da inexperiência dos seus pilotos, na sua maioria jovens em fase de instrução.
Também, a menção de neblina, brumas, etc. que aparecem repentinamente sem qualquer previsão tornaram-se muito populares nas décadas seguintes:
«Marinheiro experimentado, navegador consumado, mergulhador comprovado, o capitão Don Henry, de 55 anos, proprietário de uma companhia de salvamento em Miami, não tem tempo nem razões para fazer inimigos. Contudo, uma vez, ao regressar de Porto Rico para Fort Lauderdale, na Florida, num dia maravilhoso, rebocando um lanchão vazio preso à extremidade de um cabo de 300 m, aconteceu-lhe uma estranha aventura.
A agulha, repentinamente, enlouqueceu, os geradores deixaram de funcionar. “As vagas”, declarou Don Henry, “pareciam vir de todas as direções: era impossível distinguir o horizonte da água e do céu. O lanchão estava coberto por uma nuvem. Parecia que alguém ou alguma coisa nos puxava para trás, decidido a que tomássemos outra rota diferente da que seguíamos. Eu puxava o lanchão, que saiu da bruma; em redor, a visibilidade era excelente”».[4]
Quem seria o estranho que pilotava o quinto Avenger no Vôo 19? Ou o “perigo como punhal” do Raïfuku Maru? Que força é essa que atrai as brumas? Você já não ouviu isso antes em algum lugar?
Bibliografia:
Robert Charroux. O Livro dos Mundos Esquecidos.
Charles Berlitz. O Triângulo das Bermudas. Editora Nova Fronteira.
O Misterioso Triângulo das Bermudas. Seleções do Reader’s Digest, 1A. edição, março de 1983.
Bram Stoker. Drácula. Várias versões.
Nightmare: The Birth of Horror. (Vídeo).
Equipe ‘Sol de Ouro’ Produções Artísticas. Wilson Fernandes, Roberto Barbist (ilustradores, estoriadores). “Navio do Terror”. Edição Especial Seleções de Terror (Almanaque Seleções de Terror. N º 3, mês 9). Editora Taika, SP.
[1] Equipe ‘Sol de Ouro’ Produções Artísticas. Wilson Fernandes, Roberto Barbist (ilustradores, estoriadores). “Navio do Terror”. Edição Especial Seleções de Terror (Almanaque Seleções de Terror. N º 3, mês 9). Editora Taika, SP.
[2] O Misterioso Triângulo das Bermudas. Seleções do Reader’s Digest, 1A. edição, março de 1983.
[3] Charles Berlitz. O Triângulo das Bermudas. Editora Nova Fronteira.
[4] O Misterioso Triângulo das Bermudas. Seleções do Reader’s Digest, 1A. edição, março de 1983.
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